terça-feira, 15 de abril de 2014

A Criança Voadora

      

    Era habitado por todos o espaço azul. Todos tinham o direito de voar, o direito de comer, o direito de pousar. Todos excepto o miúdo, aquele que os via de baixo felizes nas ruas voadoras, via-os nas casas do cimo da árvore. A árvore, a árvore que o pequeno jovem tentara subir, fora andado de ramo a ramo. Divertia-se ele e todos as aves. Tornaram-se amigos. O Homem e a Liberdade. Andavam em vista de ambos em ambos. Subia-se cada vez mais a alta árvore. Que alta! Era a escada do esplêndido para o leve do azul. Era a sinfonia da Primavera plantada na erva, silvada nas flores, alimentada no Sol! Era e só era. Tudo parecia suave. Tudo parecia calmo. Parecia. De só de rápido se bastou. O pobre menino fora picado na mão por uma andorinha. Todos ficavam a ver, sem sequer se quererem aproximar da bela criança em aflição. Estaria quase a cair. Uns diziam para ela se agarrar. Outros para ela se largar, a queda não havia de ser brusca. A criança era confusa à opinião. Era abandalhada pelas penas. Sempre alimentara ela o bico aos demais, sempre saciara a sede das pobres aves, que agora não se lembram de se juntar e de o agarrar como uma concha. O ar estava solto. A brisa era brusca. Os ramos abanavam sem vim, quebram-se todos, menos o do menino. Esse ficara preso à árvore. Mas não tardara em se entregar ao vento que o queria levar. O crepúsculo da Primavera chegara. O ramo voa onde o prediz ainda mantém com força as mãos seguradas. Ele acaba por voar, ninguém mais o vê, ele é levado pela grande velocidade do ar para a longitude. Todos regressam aos seus casulos. Tudo volta ao normal. O menino vai. Havia quem ficasse com saudades do menino, havia quem se tivesse libertado da pedra que ele lhes era. Por fim, aquela Primavera fica na memória de todos. E com todos a Primavera se manteve. Com dias depois chegara a par do ramo partido a carta de despedida do menino. "Talvez - penso - não possa dizer que fora todo um desperdício. Conhecera novos seres, vi lá reflectido o bem e o mal, vi empregue toda a sociedade, vi a tal hipocrisia, vi derretidos aqueles que só querem gerar confusões. Mas não se me fica a alma pelo mal, vi quem quisesse o bem estar de todos, vi quem tivesse rosto de mau com doce coração. Vi ... vi andorinhas, vi gaios, vi águias, vi cegonhas, vi todo um bando, num todo exímio espaço. O fim da jornada no voar terminara amigos. E o fim da carta de igual forma com despedida de fortes beijos e abraços. Do vosso menino, para vós seres do ar!"

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