domingo, 2 de fevereiro de 2014

De mim: um pouco se faz favor!



      Café antigo, bem ornado com tradição lusitana (à semelhança minha) numas cadeiras ao fundo estão formosas, e bem formosas que são, senhoras, ao lado delas permanecem uns caros compadres na companhia de um belo baralho de cartas. Algumas janelas com vista à praça do Rossio. Umas moscas a rondar os ares. Silêncio perturbado com uma televisão, já de ar em si antiga, acesa. Todas as mesas regidas por pequeno catálogo do que no café se vende, por baixo uma toalha de pano de veludo azul a condizer com uns belos azulejos que ornamentam um pouco das paredes. Três portas: entrada para a cozinha, outra para a casa de banho, de homem e mulher. Entra leitor meu neste já descrito ambiente. Senta-se e chama o garçon. É no princípio da tarde.
    - Quero um pouco d'ele, se faz favor.
    - Mas, senhor, o que deseja mesmo?
    - Esqueça, pensei que aqui era local de se poder ler à vontade, e de, assim, ser servida boa leitura. Enganei-me ao que parece.
    - Aqui servimos café ou semelhantes, mas se quiser tenho bom computador aberto num blog algures na internet.
    - Do que espera então? Traga-mo se de si poder.
    - Com certeza, com licença.
    Segundos depois:
    - Aqui o tem, bom apetite.
    - Apetite de leitura com a boa companhia de uma chávena de café. Muito obrigado meu jovem.
    - Não tem de quê.
      Aberto está o meu, partilhado com vós, blog. O meu little lusitano, conhecido também será como ll, alcunhas que agora inventei para vós, estava ele um bocado desiludido, pois viu que de ontem a hoje não havia publicado nada. Revoltado, levanta-se, deixa um trocado de moedas em cima da mesa e sai do café. O garçon fica sem ter apercebido o que se passara, mas regressa ao trabalho.
       Dia seguinte, ao entrar o little lusitano no café, senta-se na mesma cadeira. O ambiente é o mesmo. 
    - Bom dia.
    - Veremos já se assim o é. Traga-me o mesmo de ontem!
    - Senhor ...
    - Estou com uma certa pressa.
       Traz o rapaz o que o leitor lhe havia pedido.
    - Aqui tem. Bom apetite. (aparte) Se não o tivesse visto e nada houvesse publicado ...
       O ll fica de novo descontente, pois o que se passa é o que havia se passado ontem. E, assim, caiu-se numa habitual rotina durante alguns dias. 
       É já de tarde.
    - Bom dia, senhor.
    - Veremos já se assim o é. Traga-me o mesmo de ontem!
    - Senhor ...
    - Estou com uma certa pressa.
    - Senhor ...
    - Já lhe disse, estou com uma certa pressa.
    - Certa pressa que com certeza espera para ouvirdes minhas boas palavras.
    - Diga, diga rápido então.
    - Me desculpe, mas é que se não se faz saber de si, este escritor do seu tão esperado blog, é aluno de ensino secundário, tem vida para além da escrita, tem prioridades, como o caso dos estudos.
       Deu assim, este rapaz, a meu ver, uma boa ensinadela a leitor meu.
    - Creio que tendes razão meu jovem. Não me tragas então o computador. Hei de esperar.
    - Trago sim.
    - Não, não precisas disso.
    - Senhor, eu me tornei num ll como você, e já vi que ele escreveu hoje à pouco.
    - Ai sim? (zangado) Porque não me avisaste antes?
    - Quis primeiro ensiná-lo a esperar, utilize isso. 
    - Está bem, espero então.
       Segundos depois.
    - Aqui o tem.
       O jovem retira-se e o senhor cai, agora, numa divinal leitura ... adora ele. Agradeceu ao garçon. Pagou. Saiu do café.
       Apenas acrescento a esta boa lição que a vós efeito também deverá ter, que não se desiludam quer em situação esta, quer numa totalmente distinta. A espera pode ser sempre demora, mas se bem feita, bem recebida é. Grato pela vossa atenção e agora sim: cessou-se vossa leitura.

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